Debate

Uma Saldanha Marinho menos verde

Retirada de árvores da avenida para obra de revitalização é alvo de polêmica entre a população

Carlos Queiroz -

A retirada de 24 árvores localizadas na avenida Saldanha Marinho tem gerado dúvidas e sido protagonista de amplos debates pela cidade. Atualmente, o local passa por revitalização e essa é a razão que fez o Poder Público optar pela supressão. Além disso, a prefeitura informou que algumas das plantas estavam em conflito com o patrimônio histórico e outras danificando calçadas e rede de drenagem.

Além da remoção das duas dúzias de árvores, outras 72 foram podadas. Mas, segundo a agrônoma e instrutora do curso de Tecnologia da Poda do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), Sandra Tavares, essa prática, além de não obrigatória, não é aconselhada nesta época do ano. Devido às altas temperatura, a atividade fisiológica das árvores está alta, pois elas apresentam folhas verdes, novas e muitas flores. Para a poda ser saudável é necessário que ela ocorra no inverno, entre junho e agosto. “Lembrando que elas servem para ajustar forma, ramos em posição indesejada ou secos e doentes”, completou.

Sobre a retirada das plantas, a agrônoma conta que é necessário analisar cada situação. “Mas, a princípio, é possível um tratamento em cada árvore, em vez de tirar várias ao mesmo tempo”, observou. Curativos e dendrocirurgias são algumas das alternativas que podem ser utilizadas para manter as árvores saudáveis e evitar a sua supressão. “Essa deve ser a última opção, pois o importante é preservar e conseguir restabelecer a saúde delas”, alertou.

O responsável pela pasta de Planejamento e Gestão (Seplag), Roberto Ramalho, conta que o projeto de revitalização visa transformar a área, que atualmente é pouco usada, em um parque linear. Além do mais, garante que uma análise criteriosa das 96 árvores foi realizada, e foi concluído que 24 deveriam ser suprimidas, sendo 21 por problemas fitossanitários e três por conflitarem com o projeto. Em contrapartida, 616 arbustos serão plantados na área. “Em novembro, um enorme galho podre caiu no meio da rua, e por sorte ninguém se feriu”, defendeu-se. Ramalho ressalta que toda a retirada foi feita por uma equipe especializada, acompanhada de biólogos. As madeiras resultantes das supressões, que estavam em bom estado, foram encaminhadas para a Santa Casa, e serão utilizadas na caldeira do hospital.

Na Câmara de Vereadores, quem preside a Comissão de Meio Ambiente é o vereador Marcus Cunha (PDT). Ele conta que já houve uma denúncia e que a comissão foi até o local para averiguar. “Não me pareceu justificável a quantidade que foi retirada”, disse. O legislador entende as podas e as supressões necessárias, mas não se satisfaz com a condição da natureza ter que se adequar ao projeto de revitalização. “Por que não foi ao contrário?” questionou. Cunha informa que já está trabalhando em uma denúncia para o Ministério Público para buscar a opinião dos técnicos da área ambiental do órgão.

Comerciante na região há cerca de oito anos, Nei Mendes Vieira deixa um aviso: “Quem gosta da natureza não faz isso”. Para ele, a impressão é que o ocorrido está indo na contramão de tudo que vem sendo pautado como essencial para a preservação do meio ambiente. “Enquanto o mundo inteiro planta, aqui se destrói”, desabafou. Vários cidadãos concordam com as ideias de Vieira e, em muro próximo das árvores retiradas, um recado, em forma de pichação, foi deixado: “Crime ambiental com amparo legal”. De outro lado está o morador Rafael Andrada. Ele acredita que somente as árvores que não tinham condições de permanecer ali foram retiradas. E se diz preocupado com as consequências que tantas supressões possam trazer para a cidade, mas crê que a obrigação com a natureza será preenchida através dos arbustos que serão plantados futuramente. “Teremos uma área de lazer, uma praça de verdade”, frisou.

Revitalização 

O projeto envolve o investimento de mais de R$ 2,3 milhões, para a requalificação da avenida Saldanha Marinho, do Largo de Portugal e da rua Dom Pedro II, entre Professor Araújo e Almirante Barroso. Os recursos são de origem federal, com contrapartida municipal. As obras estão a cargo da Construtora Pelotense.

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